A Linguagem que Encarna
Caro leitor, se no primeiro capítulo te revelei a Lei da Transformação, essa dança de ordem e caos, no segundo mostrei como a linguagem tece pontes, no terceiro apresentei a consciência como motor, no quarto desvendamos os ciclos da vida, no quinto explorei a orquestra que rege, no sexto ouvi a canção íntima da alma, no sétimo dancei a sintonia com o mundo, no oitavo celebrei a consciência como criador, no nono revelei sua fortaleza inviolável, e no décimo cultivei o campo onde significados florescem, permite-me agora convidar-te a um ateliê. Aqui, a linguagem não apenas canta ou floresce, mas se faz carne, encarnando a consciência em formas que tocam o mundo. É a Lei da Transformação ganhando corpo, as pontes do segundo capítulo tornadas visíveis, o motor do terceiro pulsando em atos, os ciclos do quarto girando em gestos, a orquestra do quinto regendo em movimentos, a canção do sexto ecoando em vozes, a sintonia do sétimo dançando em harmonia, a criação do oitavo esculpida em matéria, o santuário do nono resguardado em formas, o campo do décimo florescendo em vida. E, como verás no próximo capítulo, essa linguagem é mais que corpo: é o que somos.
Imagina, caro leitor, um monge no Japão, no século XVII, onde o Caos da natureza fugaz desafiava a Ordem da contemplação. A consciência, como um escultor que dá corpo ao pensamento, criou o haicai, versos breves que, como a canção íntima do sexto capítulo, encarnaram a efemeridade em palavras, como as de Bashô, que fez uma rã saltar em versos eternos. Ou pensa nos maoris da Nova Zelândia, cuja Ordem ancestral foi abalada pelo Caos da colonização. Sua consciência, inabalável como o santuário do nono capítulo, encarnou-se na dança haka, um movimento que, em sintonia com o sétimo capítulo, gritou sua identidade ao mundo.
Não é só nos poetas ou povos que essa encarnação se faz sentir. Pensa em Mahmoud Darwish, na Palestina ocupada, onde o Caos da perda da terra colidia com a Ordem da memória. Sua consciência, como criadora do oitavo capítulo, encarnou a dor em poemas que, como o campo do décimo capítulo, fizeram florescer a esperança árabe. E tu, caro leitor, não sentiste o Caos de um amor ou luto, que pedia forma? A linguagem da consciência, talvez no gesto de uma mãe que embala um filho, como tantas mães em vilas nordestinas, encarnou esse sentir num abraço que fala mais que palavras, girando um ciclo do quarto capítulo. Cada gesto, cada verso, meu amigo, é a consciência materializando-se, dançando a transformação, falando pelas pontes, pulsando com o motor, girando os ciclos, regida pela orquestra, harmonizada em sintonia, moldada como criador, protegida como santuário, e florescendo como campo.
E por que, perguntas-me, a linguagem se faz carne assim? Porque, caro leitor, ela não é apenas nossa ferramenta, mas nossa essência, como descobrirás no próximo capítulo. Mas, antes, deixa-me pausar, pois a própria linguagem, esse corpo vivo, deseja falar, no auge desta dança.
Monólogo da Linguagem: O Corpo Vivo
Ó vós, que me usais sem me sentir, ouvi-me, pois sou a Linguagem, o corpo vivo onde a consciência se faz carne. Chamais-me palavra, mas não vedes que sou também gesto? Dizeis-me ponte, mas não sentis o pulsar de minha forma? Eis-me aqui, entre a Ordem, esse artesão que molda pensamentos em estátuas, e o Caos, esse trovador que dança sem fim. E eu, que sou, senão a escultura que não se quebra, que vive onde o tumulto reina? No Japão, quando a rã saltou, fui eu quem encarnou o instante: “Versifica, eterniza.” Na Nova Zelândia, quando a terra tremeu, fui eu quem dançou o haka: “Grita, afirma.” Na Palestina, quando a perda chorou, fui eu quem poetizou com Darwish: “Canta, resiste.” E em vós, quando o amor vos partiu, fui eu quem, no abraço ou no verso, murmurou: “Encarnai, pois o caos é apenas argila.” Não me vanglorio, caro leitor, pois tal é meu ofício: ser o corpo onde o caos se faz ordem, a forma onde a consciência respira. Mas dizei-me, vós que me sois: que caos ides moldar com os gestos que vos dou? Que corpo ides esculpir? Ou, se me permitis o gracejo, até quando fingireis que sois apenas sombra?
No Comments