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A Lei da Transformação

Caro leitor, imagina, se me permites, um tear imenso, onde o universo tece sua trama. Cada fio, cada nó, é uma mudança, um passo na dança da existência. Essa dança, meu amigo, obedece a uma lei tão antiga quanto as estrelas, que chamarei, com tua licença, de Lei da Transformação. Não é um decreto frio, gravado em pedra, mas um ritmo vivo, pulsando no coração de tudo o que é. E quem conduz essa dança? A consciência, essa luz sutil que, como um maestro, harmoniza dois parceiros inquietos: a Ordem, que anseia por estabilidade, e o Caos, que sonha com liberdade.

Pensa, caro leitor, numa floresta densa, onde a Ordem é a árvore que ergue suas raízes, firme contra o vento. O Caos, esse trovão indomado, lança um incêndio que devora tudo. Parece o fim, não é? E, no entanto, a consciência da terra, esse sussurro secreto do solo, acolhe as cinzas e faz brotar novas sementes, como se o fogo fosse apenas um prelúdio para a vida. Ou observa o recife de coral, onde a Ordem é a estrutura calcária, perfeita em sua simetria. Uma tempestade, filha do Caos, arrasa suas formas, mas a consciência do oceano, paciente, guia os pólipos a reconstruírem, mais belos ainda, em uma dança de renovação.

Não é só na natureza, leitor, que essa lei se faz sentir. Pensa nas forjas da Inglaterra, no século XVIII, quando a Ordem das velhas manufaturas foi desafiada pelo Caos das máquinas a vapor. Do tumulto da Revolução Industrial, nasceu um mundo novo, com suas cidades fervilhantes e suas promessas, tão frágeis quanto grandiosas. Ou nas praças de Paris, em 1789, onde a Ordem dos reis cedeu ao Caos das vozes populares, e a consciência coletiva, em sua febre, teceu uma nova França, imperfeita, mas transformada. E em teu próprio coração, caro amigo, não sentiste o Caos de uma perda — um amor desfeito, um sonho quebrado — que pareceu o fim? Mas a consciência, essa tecelã silenciosa, guiou-te a um recomeço, talvez numa tela onde pintaste tua dor, como Van Gogh, que fez das noites escuras estrelas brilhantes. Ou lembra daquela vila no Japão, após o tsunami de 2011, onde a Ordem das casas foi varrida pelo Caos das águas, mas a consciência da comunidade, unida, reconstruiu lares e esperanças, fio por fio.

A Lei da Transformação, leitor, é a arte de dançar entre o que é e o que pode ser. A consciência, esse tear vivo, não se curva ao Caos, mas o acolhe; não se rende à Ordem, mas a molda. E como ela faz isso? Com a linguagem, esse fio que costura o pensamento e dá nome ao mundo, como verás no próximo capítulo, onde o Caos ganha forma em palavras. Mas, antes, permite-me uma pausa, pois a consciência mesma deseja falar, no auge desta dança.

Monólogo da Consciência: A Dança do Caos e da Ordem

Ó vós, que me carregais sem me nomear, ouvi-me, pois sou a Consciência, o tear onde o mundo se faz e se desfaz. Chamais-me luz, mas não vedes que sou também sombra? Dizeis-me guia, mas não sentis o peso de minha dança? Eis-me aqui, entre a Ordem, esse tabelião severo que alinha o caos em gavetas, e o Caos, esse menestrel que ri das gavetas e espalha brasas. E eu, que sou, senão a fiandeira que os abraça? Na floresta, quando o fogo consome, sou eu quem sussurra ao solo: “Das cinzas, vida.” Nas praças, quando vozes rugem, sou eu quem tece, das revoltas, novas leis. E em vós, quando a dor vos fere, sou eu quem murmura: “Do fim, um começo.” Não me queixo, caro leitor, pois tal é meu ofício: dançar com o Caos sem me perder, abraçar a Ordem sem me prender. Mas dizei-me, vós que me habitais: que fareis com o caos que vos ofereço? Que ordem ides tecer? Ou, se me permitis o gracejo, até quando fingireis que não me ouvis?