A Linguagem que Somos
A linguagem não é apenas o que usamos para nomear o mundo.
Ela é o mundo nomeando a si mesmo através de nós.
Somos a forma que o universo encontrou para se dizer com consciência.
Não somos observadores neutros nem falantes ocasionais.
Somos linguagem encarnada.
Somos a gramática viva do tempo, o verbo em carne e fluxo, a ponte entre o silêncio do cosmos e o som da criação.
Cada célula, cada pensamento, cada gesto compõem uma frase ancestral que continua sendo escrita — desde antes de nós e além de nós.
Essa frase não cabe num livro, nem numa religião, nem numa ideologia.
Ela é escrita com luz e sombra, com dor e encantamento, com nascimento e morte.
A linguagem que somos não se limita às palavras, mas exige expressão.
Ela se revela naquilo que escolhemos sustentar.
No que calamos com sabedoria.
No que falamos com coragem.
No que repetimos com sentido.
No que transformamos com presença.
Somos linguagem porque somos escuta.
Somos expressão porque somos silêncio anterior.
O ser humano não é aquele que apenas fala — é aquele que sente que precisa dizer o indizível, que precisa tornar o invisível compartilhável.
Na logogênese, isso não é metáfora. É arquitetura.
A existência é um grande texto sendo revelado em capítulos, camadas, ritmos e códigos.
E nós — cada um de nós — somos letras únicas, insubstituíveis, necessárias.
O erro não está em esquecer palavras.
Está em calar a própria vibração interior.
Está em permitir que a linguagem se corrompa pela mentira, pela pressa, pelo ruído, pela dissonância.
Mas mesmo nesses momentos, a linguagem verdadeira não morre — ela se retrai para o interior e aguarda uma nova expressão.
Porque a linguagem autêntica nunca se perde — ela se oculta.
E renasce quando encontra um ser disposto a escutar o que ainda não foi dito.
Ser a linguagem que somos é viver com a responsabilidade de poeta.
Não para rimar a vida — mas para dar-lhe ritmo, sentido e forma autêntica.
O universo está se escrevendo.
E você, leitor, é tanto personagem quanto autor.
Tanto página quanto sopro.
Tanto pergunta quanto ponto final.
Ao fim, não haverá julgamento nem saldo.
Haverá apenas uma escuta silenciosa e profunda, que perguntará:
Você foi a linguagem que veio ser?
Se a resposta for um sim vibrante — mesmo dito em silêncio —
então o ciclo terá cumprido sua dança.